UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Programa de Pós-Graduação em Memória Social
e Patrimônio Cultural
Artigo
Álbum
de família: A vida e a obra de Túlio Lopes no desenvolvimento cultural e
artístico de Bagé, RS.
Zenab
Esquirio El Hatal Esteves
Pelotas, 2011
Zenab
Esquirio El Hatal Esteves[2]
RESUMO
Este artigo descreve a narrativa realizada por Mário
Lopes, por ocasião de um trabalho de pesquisa realizado sobre a vida e obra de
seu pai, Túlio Lopes, e cujo objetivo foi analisar a forma de informação que o
entrevistado prestou e como se deu a troca de informações neste contexto.
Observou-se a forma entusiasmada como Mário refere-se à obra de seu pai e o
destaque de importância que dá ao legado tanto artístico como cultural e social
que seu pai proporcionou à cidade, especialmente porque foi abrangente em suas
realizações. Constatou-se que o entrevistado conserva vivas na memória as
lembranças das realizações do pai, mas que a forma como se expressa, ainda que
não tenham requinte, constituindo-se de expressões simples, mantêm uma
coerência e técnica, capazes de proporcionar um entendimento muito amplo
daquilo que quer narrar.
Palavras chave: Narrativa; Entrevista; Expressão de oralidade; Forma de expressão.
ABSTRACT
This article
describes the narrative pro Mario Lopes held on the occasion of a research work
about the life and work of his father, Túlio Lopes, whose objective was to
analyze the form of information that the respondent has provided and how was
the exchange of information in this context. There was as excited as the Mario
refers to the work of his father and the highlighting of the importance it
attaches to both artistic and cultural heritage and social that his father gave
to the city, especially because it was comprehensive in their accomplishments.
It was found that the respondent retains the memory alive in the memories of
his father's achievements, but how it is expressed, although they have not
refinement, being of simple expressions, maintain consistency and technique,
capable of providing a very understanding ample of what you want to narrate.
Keywords: Narrative; Interview; Speech expression; Form
of expression.
Introdução
O começo de um estudo acontece pelo interesse velado de um pesquisador
sobre um determinado tema que lhe instiga e encanta. E foi assim que, ao ter
uma breve noção da vida e obra de Túlio Lopes, interessei-me por seu trabalho e
pelo seu legado à cultura e à arte bajeenses. Além do interesse pela própria
arte, que me é peculiar, o despertar para um novo olhar sobre um trabalho
diferente que não se compunha de fotografia, mas de uma composição a partir
desta, que fomenta a curiosidade pela sensibilidade demonstrada pelo artista.
A partir desse interesse, buscou-se conhecer a vida e obra de Túlio
Lopes, tendo como objetivo a identificação de como o seu trabalho influenciou a
cultura à arte da cidade e de que forma outros artistas e fotógrafos sofreram a
influência do referido artista. Assim, buscou-se informações nos mais diversos
centros de documentação da cidade, porém foi tendo como fonte de informações
seu próprio filho, Mário Lopes que se conseguiu levantar dados importantes,
capazes de atender aos objetivos propostos. Este artigo se desenvolve a partir
da entrevista realizada com Mário Lopes, tendo como objetivo analisar a forma
de informação que o entrevistado prestou e como se deu a troca de informações
neste contexto.
Desenvolvimento
Inicialmente procurei Mário Lopes na busca de informações sobre seu pai,
Túlio Lopes, argumentando da importância deste no contexto fotográfico e
documental da cidade, mas sem saber como seria a recepção do trabalho proposto.
Surpreendentemente, o futuro entrevistado mostrou-se muito interessado em
contribuir com o trabalho e entusiasta com a possibilidade de participar da
reconstrução da história de seu pai.
A partir de então, começamos um intenso diálogo, que perdurou por várias
semanas, começando pelo conhecimento da casa do entrevistado, cuja memória do
pai ainda está viva em vários cenários e objetos por ele deixados, lembrando
que a maioria deles pertence ao Museu Dom Diogo de Souza, onde está.
A maneira como Mário Lopes se reporta ao pai é interessante, pois fala do
mesmo como se ele ainda vivesse. Isso possibilita interpretar que a memória de
Túlio Lopes é muito presente ainda pelo que construiu ao longo de sua história,
tendo em vista as particularidades que construiu em sua obra – foto e arte num
mesmo trabalho.
Foto
com pintura à mão por Túlio Lopes
Além disso, a obra comunitária do artista plástico foi muito marcante,
sendo lembrada até hoje, especialmente pelo legado social que a mesma
proporcionou à cidade. E esse fato foi sempre lembrado por Mário, seu filho
durante as entrevistas.
A simplicidade de Mário é mostrada na sua oralidade suave e meiga, onde a
busca por palavras simples, mas escolhidas e colocadas de forma metódica e
direta denotam o grande conhecimento do assunto em debate. Aos poucos e se
utilizando da prerrogativa da narrativa, o entrevistado aponta os caminhos
percorridos por seu pai no trilhar de sua existência, ao mesmo tempo que mostra
um breve legado fotográfico guardado com muito carinho e denodo, como uma
relíquia a ser preservada.
Mostrando
o álbum de família.
Inicialmente, narra os primórdios do pai no Brasil, a partir de seu
nascimento em Agueda, Portugal, em 1894, tendo vindo para Bagé, com os pais,
com apenas um ano de idade. Comenta sobre seus estudos no Colégio Nossa Senhora
Auxiliadora onde foi um dos fundadores. Ao comentar esses fatos, denota emoção,
como se estivesse falando de um passado recente e muito marcante para ele,
Mário.
Mário relata ainda que seu pai teve na fotografia seu hobbie preferido, usando sua própria
casa como atelier, e onde desenvolveu a arte de colorir fotos à mão, trabalho
artístico em que se destacou e para o qual mostrava extrema perfeição, segundo
seu filho. Ao mesmo tempo que relata
estes fatos, Mário vai mostrando (ilustrando) a conversa com os álbuns de
família que guarda em casa, onde mostra vários trabalhos de Túlio que
corroboram com a narrativa.
A entrevista se torna apaixonante para ambas as partes, entrevistadora e
entrevistado, prolongando-se por várias horas a cada dia. Às vezes, sendo
retomados pontos anteriores, onde são relatados novos fatos sobre os que já
haviam sido comentados. A simplicidade com que Mário relata passagens da vida
de seu pai é impressionante pelo fato de que, apesar da idade, as lembranças
parecem muito vivas na sua memória, como se fossem recentes.
Relata, com orgulho, o pioneirismo do pai como repórter fotográfico do
Jornal Correio do Sul, num tempo em que não havia clicheria e as fotos dos
principais acontecimentos da cidade eram exibidas em um painel, na frente do
prédio do jornal. Com isso, Túlio constituiu um acervo
histórico-cultural-social de alta relevância para a cidade, que foi resgatado
pelo filho e entregue ao Museu Dom Diogo, onde está exposto.
Mário Lopes fala de forma entusiástica de outro hobbie de seu pai, o cinema em casa, que possibilitou a ele
constituir um grande acervo de filmes do cinema mudo, sendo alguns muito raros,
com valor incalculável atualmente. Mas a alegria de Mário se expande quando
refere-se ao trabalho do pai na formação na década de 50 da banda da Sociedade
União dos Artistas, a popular “bandinha” e na organização da Orquestra
Filarmônica de Bagé, cuja existência foi breve mas muito jubilosa.
Mário ainda se refere ao trabalho de seu pai como colecionador de fotos
que memorizavam a cultura e a sociedade locais, muitas compradas de outros
fotógrafos, como “forma de conservar aqui parte de nossa cultura”, como destaca
o entrevistado. Assim, de forma
narrativa e num tom muito informal, Mário Lopes descreve a trajetória de seu
pai, Túlio Lopes, num clima de cordialidade e, ao mesmo tempo, entusiasmado,
utilizando-se de uma forma bem simples de narrativa, mas que nem de longe se
aproxima do vulgar.
Pausas
na entrevista preenchidas pela mostra de imagens
Ao falar de seu pai, ao mesmo em tempo que demonstra carinho e euforia,
obedece a uma capacidade oral muito técnica e comedida, apesar de simples como
já foi colocado, e, por isso, consegue abordar os vários temas da vida do pai
sem se tornar cansativo ou repetitivo. Utiliza-se das pausas de forma muito
interessante, aproveitando-as para preencher o tempo com o visual de seus
álbuns de família, o que faz das entrevistas um misto de oralidade e visualização,
que se completam de forma muito intima e eficiente para a compreensão da
história.
Considerações Finais
Ao reler o texto de Vavy Borges “Gabrielle Brunne-Sieler, uma vida
(1874-1940)”, reporto ao que a autora refere sobre a narração, de que “sem
documentos não há história e as fontes encontradas, em boa medida, estabelecem
os níveis em que podemos nos aprofundar na vida de uma pessoa”. Realmente, as
fontes são fundamentais para entender os fatos históricos ou pessoais (ou ambos
em conjunto), estabelecendo uma relação entre a história e seus personagens.
E foi em busca das fontes orais e visuais que se pode desenvolver um
trabalho sobre a vida de Túlio Lopes, sendo a fonte mais importante seu próprio
filho, Mário Lopes, cuja narrativa dos fatos que constituíram o trabalho
artístico, comunitário e social de seu pai, contribuiu para entender a
importância do legado desse personagem histórico bajeense e a sua influência na
cultura, na sociedade e na arte locais.
Analisar a forma como se expressa o entrevistado se torna um tanto quanto
inócuo se presenciada a forma como o mesmo se apresenta, fala e cala,
expressa-se sem falar e sente ao mesmo que se faz sentir como presença marcante
num contexto histórico e cultural que é sua própria residência, que considero
um museu particular, cuja figura principal é o próprio Mário.
Maravilhoso é só ler e sair com uma aula gratuita de cultura e muita informação,ótimo,parabéns.
ResponderExcluirObrigada amiga,essa pessoa com que eu fiz a entrevista éo Sr. Mário Lopes,filho do Túlio Lopes,uma pessoa incrível,com 85 anos de vida bem vivida e com muita contribuição tb até os dias de hj pra Bagé,é um poço de informaçõees sobre muitos que tb contribuiram pela formação deste povo.Muito obrigada amiga volte sempre e comentem fica com Deus!
ExcluirParabéns....
ResponderExcluirObrigada Dado!
Excluir